Precisamos descobrir o Brasil!
Escondido atrás das florestas,
com a água dos rios no meio,
o Brasil está dormindo, coitado.
Precisamos colonizar o Brasil!
O que faremos importando francesas
muito louras, de pele macia,
alemãs gordas, russas nostálgicas
para garçonetes dos restaurantes noturnos.
E virão sírias fidelíssimas.
Não convém desprezar as japonesas.
Precisamos educar o Brasil!
Compraremos professores e livros,
assimilaremos finas culturas,
abriremos dancings e subvencionaremos as elites.
Cada brasileiro terá a sua casa
com fogão e aquecedor elétrico, piscina,
salão para conferências científicas.
E cuidaremos do Estado Técnico.
Precisamos louvar o Brasil!
Não é só um país sem igual.
Nossas revoluções são bem maiores
do que quaisquer outras; nossos erros também.
E nossas virtudes?
A terra de sublimes paixões...
os Amazonas inenarráveis...
os incríveis João-Pessoas...
Precisamos adorar o Brasil.
Se bem que seja difícil
caber tanto oceano e tanta solidão
no pobre coração já cheio de compromissos...
Se bem que seja difícil compreender
o que querem esses homens,
por que motivo eles se ajuntaram
e qual razão dos seus sofrimentos.
Precisamos, precisamos esquecer o Brasil!
Tão majestoso, tão sem limites, tão despropositado,
ele quer repousar de nossos terríveis carinhos.
O Brasil não nos quer! Está farto de nós!
Nosso Brasil é o outro mundo.
Este não é o Brasil. Nenhum Brasil existe!
E acaso existirão os brasileiros?
Carlos Drummond de Andrade
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